Me dói a alma ver que tenho que advogar de joelhos, pedindo permissão para essa entidade, esse clube, essa verdadeira guilda se eu posso fazer isso ou aquilo, e de que forma devo me dirigir a Sua Santidade sem ofendê-la. Nos meus quarenta e dois anos de profissão lutei e vou seguir lutando para ver uma OAB que consiga se manter em pé se a filiação dos pobres advogados fosse opcional... ahhhh... tenho convicção que esse "negócio" não duraria seis meses. Lamentável realidade....
E veja, caro leitor, que tais mensalidades não são consideradas um imposto, nem uma taxa, mas sua falta de pagamento tem um poder infinitamente mais destrutivo que daqueles e sua cobrança é feita sob a mais requintada e rápida forma de coação: pague ou você não vai trabalhar. Reclame e terá o mesmo fim. E o negócio é arrecadar mesmo: veja o tal Exame da Ordem que faz parecer que um imbecil formado em uma faculdade medíocre (e não fiscalizada), mas que decorou o que é repristinação seja considerado um bom advogado. Desde que pague, é claro (e caro), para fazer, repetir e refazer o tal exame tantas vezes quantas sejam necessárias até saber o que é a tal da repristinação. Mas se o clube se preocupa com a qualidade dos advogados formandos, por qual razão não fiscaliza as faculdades, nascedouro da plêiade de despreparados que algumas descarregam todos os anos? Ora, porque isso seria CUSTO e não RECEITA. Toda essa operação arrecadatória é amparada por uma lei federal que torna (pelo menos) legal, ou melhor dizendo, legalizada a atuação do clube. Infelizmente legalizada também é a atuação de algumas outras associações similares com poder de cobrança sob coação, com o objetivo de arrecadar dos outros para si mesmas, todas sempre bem amparadas por iguais leis. Mas nem tudo o que é imoral é ilegal. Não queria me associar a esse clube. Não queria ser obrigado e coagido a pagar mensalidades a esse clube. Estudei por quase vinte anos em boas escolas e faculdades para me formar e receber um diploma reconhecendo que sou um advogado, com todas as prerrogativas correspondentes. O mercado de trabalho me selecionou e me aprovou nos últimos 34 anos. Mas se eu não pagar a mensalidade, não poderei trabalhar, seja bom ou ruim. Olhe, eu até poderia concordar em pagar um valor razoável a título de “taxa de fiscalização” para alguma entidade com tal finalidade. Mas tenho dificuldade em aceitar que sou obrigado e constrangido a me associar a um clube particular e coagido de forma absolutamente irresistível a pagar-lhe mensalidades sob pena de não poder exercer minha profissão para a qual estou legalmente habilitado.
Quem sabe um dia a coisa muda? Quem sabe um dia esse clube terá que fazer por merecer a contribuição para seu próprio sustento e, ao invés de servir-se DO advogado talvez passe a servir AO advogado.